Faleceu na tarde desta segunda-feira, 7 de julho de 2025, em sua residência, a cantora, jornalista e radialista Lena Rios, uma das vozes mais marcantes da cultura piauiense e brasileira. Ela tinha 76 anos e partiu de forma serena, deixando uma história marcada por coragem, talento e pioneirismo.
Nascida em 16 de agosto de 1949, no Hospital Getúlio Vargas, em Teresina — coincidentemente no mesmo dia do aniversário da cidade — Lena teve a arte em seu berço. A filha do sanfoneiro Raimundo Barradas e da violinista Helena Siqueira Barradas, cresceu cercada pela música e poesia, o que moldou seu destino desde cedo.
De “Barradinha” a Lena Rios: uma trajetória de reinvenção
Batizada como Maria do Socorro Barradas, recebeu ainda jovem o apelido de "Barradinha". Ao se casar com Juliano Falcoaria Rios Neto, atualizou o nome completo Maria do Socorro Barradas Falcoaria Rios. Mas foi na busca pelo estrelato artístico que ela se reinventou definitivamente. No início da década de 1970, em um encontro com os influentes Torquato Neto, Carlos Imperial e Carlos Lemos, nasceu seu nome artístico: Lena Rios, uma homenagem ao nome da mãe, Helena.
Do sertão à cidade maravilhosa: coragem de quem sonha grande
Lena trocou sua cidade natal por Teresina, onde iniciou sua jornada com a banda “Os Brasinhas”. Mais tarde, impulsionado pelo seu sonho de cantar, partiu sozinho para o Rio de Janeiro, desafiando as convenções da época. Viveu como hippie, enfrentou dificuldades, e com resistência conseguiu atenção de nomes como Carlos Imperial e Torquato Neto, que se tornariam seu grande aliado na carreira artística.
Lena foi apresentada em casas noturnas renomadas como o Monsieur Pujol, Flag e Number One. Foi indicada a grandes produtores como Roberto Menescal e Rildo Hora, sendo contratada pela gravadora Philips. Participou do histórico VII Festival Internacional da Canção em 1972, no Maracanãzinho, conquistando o público com a canção “Eu sou eu, Nicuri é o Diabo”.
Uma vida dedicada à comunicação e à cultura
Antes de brilhar nos palcos, Lena já havia deixado sua marca como radialista e jornalista. Aos 13 anos, ganhou seu primeiro programa de rádio. Em 1967, enquanto estudava no Colégio Paulo Ferraz, apresentou-se ao jornal O Dia, onde começou a escrever a coluna “Juventude em Foco”, que mais tarde se tornaria “Barradinha, Vê, Ouve e Informa”. Também comandou o programa “Carnet Social” ao lado de Mauro Júnior, e mais tarde brilhou no programa “Ronda Policial” da TV Meio Norte.
Trabalhou em praticamente todas as rádios e jornais de Teresina, sempre com a mesma paixão e prejuízos que se caracterizavam como artista.
Arte sem rótulos: do baião ao rock, uma voz livre
Lena nunca se deixou prender por estilos. Gravou samba, forró, rock, música popular e sertaneja, sempre buscando a liberdade criativa. Trabalhou com grandes nomes da música brasileira e gravou composições inéditas de Torquato Neto, Wally Salomão, Raul Seixas, Luiz Melodia, João Nogueira, entre muitos outros. Também regravou clássicos de Cartola, Adoniram Barbosa, Luiz Gonzaga, entre outros ícones
- “Sem Essa Aranha” (1972)
- “De Tudo um Pouco” (1976)
- “Lena Rios” (1977)
- Participações em álbuns de festivais e coleções importantes da música brasileira.
Legado de uma mulher à frente do seu tempo
Desde criança, Lena mostrou que era diferente. Aos 7 anos, ao assistir a um show de Luiz Gonzaga, correu ao palco e foi convidado pelo Rei do Baião para cantar com ele a música “Sabiá”. Foi o início de uma longa e intensa jornada, cheia de altos e baixos, mas guiada por uma determinação rara.
Em uma de suas passagens por Jaicós, cidade do avô Valdomiro Jácome de Araújo, Lena emocionou a plateia de um circo ao cantar acompanhado de seu pai. Esse tipo de cena se repete inúmeras vezes ao longo da vida, em palcos de diferentes tamanhos, sempre com a mesma paixão.
Despedida de uma estrela inapagável
Com sua partida, o Brasil perde uma artista completa, uma comunicadora nata e uma mulher que sempre foi autêntica, determinada e inspirada. Lena Rios fez da sua vida uma obra de arte, marcada pela ousadia e pela entrega total à música e à comunicação.
Seu legado continuará vivo nas canções, nos textos, nos programas e nas memórias de quem teve o privilégio de ouvi-la e conviver com sua energia vibrante. Lena Rios não foi apenas uma artista. Foi uma força da natureza
fonte: Portal R10