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MÚSICA (Arnaldo Albuquerque) no PIAUÍCult.
Sobre... (Arnaldo Albuquerque). 
A arte sempre se importou mais com a política do que a política com a arte. Não é bem assim quando o recorte é os anos 70 no Brasil. Estamos falando dos anos de chumbo da ditadura militar e da explosão de um movimento de contracultura no país. Mais importante do que se opor, era subverter. Na mesma época em que era fundado o “Charlie Hebdo” na França, e em que “O Pasquim” desbundava no Rio de Janeiro, vinha do Piauí um traço único e atemporal, capaz de resumir o grito de uma geração: Arnaldo Albuquerque.
É sempre complicado falar de Arnaldo em qualquer edição – nós, como muitos de nossos entrevistados da geração 1970, já nos arriscamos a definí-lo, sempre com a sensação de incompletude. Para além da autocrítica, vem à tona a conclusão: não se trata apenas da nossa limitação. É Arnaldo que não cabe somente em uma definição.
“Chamar o Henfil de cartunista é um erro, porque ele foi um multiartista e hoje em dia estaria trabalhando em todas as mídias possíveis”. A frase é do jornalista Tárik de Sousa, no recente documentário sobre o cartunista que atuou no Pasquim – mas ela facilmente cabe a Arnaldo. Que, não por acaso, também publicou no semanário alternativo brasileiro. Não é de se espantar que pouca gente saiba disso – Arnaldo sempre ia pela margem.
“Eu costumo dizer que ele criou uma terceira margem”. Quem fala é Cícero Nogueira, historiador e doutor em Belas Artes. Cícero ouviu falar de Arnaldo pela primeira vez quando estava na especialização em História e, como todo pesquisador diante do mar de possibilidades, teve a árdua missão de fazer o seu recorte. Por uma perspectiva da história, ele observa a crítica social presente nos quadrinhos de Arnaldo. E descobre que vai muito além de “Humor Sangrento”.
Arnaldo foi o primeiro chargista da imprensa diária no Piauí, estreando no jornal O Dia em 11 de dezembro de 1971, na página 3. Naquele período, trazer uma sátira política para o cotidiano, num dos estados da federação mais atrasados em índices de desenvolvimento, era botar um sertanejo no cerne da contracultura nacional. Para fazer rir, é preciso fazer pensar – e todas as fontes que conviveram com Arnaldo são unânimes em definí-lo como um intelectual.
Seu contexto de vida ajuda a explicar: filho de dono de gráfica, o mundo dos livros, revistas e publicações sempre foi natural ao menino com tantos graus de miopia que abraçava as revistinhas contra o corpo para enxergar melhor. Fazia conexões tão rápidas quanto complexas. Arnaldo é considerado um mestre da síntese por especialistas em quadrinhos, humor e cinema.
Com pouco mais de 20 anos vieram as publicações alternativas – Hora Fatal, Estado Interessante e Gramma – este último foi, talvez, o impresso de maior destaque para a história da imprensa alternativa em Teresina. As publicações reforçavam seu talento para as artes gráficas. “O Arnaldo era não só o ilustrador como o diagramador de todos esses materiais gráficos que fizemos”, diz Durvalino Couto em entrevista à Revestrés.
O Gramma teve duas edições entre os meses de fevereiro e novembro, no ano de 1972 – é considerado um dos primeiros jornais mimeografados do Brasil, por Heloísa Buarque. A novidade veio em carta de Paulo José Cunha, que morava em Brasília – e era primo de Torquato Neto – para Edmar Oliveira – “Olha, aqui tem uma máquina, compadre, que se a gente cuspir, sai”. Foi o pontapé para o “jornal pra burro”, como se autodescrevia a publicação e era vendida a 1 cruzeiro. “Se custa muito pra vocês, saibam que custou muito mais pra gente”, dizia o editorial.
Reportagem completa na Revestrés#39 – janeiro-fevereiro de 2019.